Reflexões sobre a elaboração de questionários e a percepção de estudantes

Muitas vezes temos que responder algum questionário solicitando a nossa opinião sobre algum tema, ou pedindo que avaliemos alguma situação. Por que são elaborados? Como são estruturados?

Maria Cristina Fernandes, afirma no seu capítulo que o questionário é um mecanismo nos processos de autoavaliação de cursos para ouvir as pessoas: os estudantes, professores, técnicos, administrativos e a comunidade. Para que a escola ou universidade deseja ouvir? Para compreendermos a percepção das pessoas sobre a qualidade das instituições. Nas universidades consegue-se saber o que se passa por dentro do curso quando as pessoas são ouvidas. Além de valorizar a contribuição de cada um para a escola, para a Universidade, é criada uma cultura de avaliação
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Os questionários elaborados pelas instituições educacionais normalmente estão dentro do seu processo de autoavaliação, que tem funções regulatórias, ao atender a legislação e emancipatórias ao levar ao autoconhecimento, na busca da maioridade.
Ao elaborarmos questionários temos, primeiro, que pensar o porquê, o objetivo dessa autoavaliação. A autoavaliação significa perguntar se realizamos o que nos propusemos alcançar, as metas propostas. O processo de autoavaliação não é só enumerar produtos: “atendemos 200 alunos”. Ela é um canal de comunicação, pressupõe saber falar e ouvir. Ela vai ser uma base de reflexão, um meio de conhecermos as práticas pedagógicas.
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A autoavaliação é uma reflexão, questionamento rigoroso e metódico das nossas atividades. Ela também nos permite fazer diagnósticos do desempenho social, econômico, político, éttico etc.
Quando elaboramos um questionário, não partimos do vazio, temos que ter referências. Fernandes exemplifica que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior tem como referência 10 dimensões que norteiam os processos de avaliação. Tomando ainda como exemplo, ela cita que a UFSCar, ao construir o seu questionário, recorre ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) como referência. Dos valores presentes no seu PDI são elaboradas questões para saber: como é a valorização da formação docente? Quais são as condições pedagógicas dos docentes? Qual é a participação em pesquisa e extensão? Quais são as condições de funcionamento?
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O questionário tem vantagens e desvantagens: possibilita atender um grupo maior de pessoas, mas exclui analfabetos e não há garantia de que as pessoas responderão. Garante o anonimato permitindo que expressem o que pensam, mas as pessoas podem ter significados diferentes e o pesquisador não consegue compreender pelo questionário estas diferenças. Os respondentes podem escolher o melhor momento para responder, mas não são conhecidas as circunstâncias em que foram realizadas as respostas. Evita a influência do pesquisador, mas não permite o esclarecimento das questões.
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O questionário pode ser aberto ou fechado. O aberto é mais rico, traz mais informações, as pessoas respondem como pensam, mas tem a desvantagem de ser difícil de tabular. Imagine tabular um questionário aberto com mil respondentes. No questionário fechado a tabulação é mais simples. Dependendo do tamanho da amostra a escolha será por um ou outro tipo de questionário.
As questões devem ser claras, concretas e precisas, perguntando-se exatamente sobre o que nós estamos avaliando. Por exemplo, se desejamos saber como o professor utiliza a lousa, ou de que forma ele corrige as provas, devemos pensar como as pessoas que irão responder entenderão a pergunta. Quais as referências delas? O correto é usar um vocabulário adequado ao respondente.
Uma segunda característica, cada questão deve tratar apenas de um tema, por exemplo, se em uma questão perguntamos: “a didática e o vestiário das aulas de educação física são adequados? ” São dois temas diferentes, se o respondente diz que é muito bom, não sabemos o que ele está elogiando.
Uma terceira, os questionários fechados fazem uso de escalas. As escalas binárias (sim ou não) e as escalas que trabalham com a ideia de intensidade (ótimo, bom, regular ruim, péssimo). Podemos utilizar vários tipos de intensidades, por exemplo, de frequência: o professor chega no horário? Sempre, às vezes, nunca, etc. É importante, também o questionário ter a possibilidade da pessoa não responder, por exemplo “o banheiro é limpo?” Se o respondente nunca entrou no banheiro, ele tem que ter a possibilidade de responder “não sei”.
Uma última característica é que o questionário sempre tem um destinatário. Devemos perguntar: o questionário é para os professores? Para os estudantes? Para os técnicos administrativos? Ou para a sociedade? Para cada um deles são feitas questões diferentes, por exemplo, não perguntamos aos professores e aos técnicos administrativos se as provas são bem elaboradas, mas sim para os alunos e seus pais.
O questionário tem de ser testado para saber se o tempo está adequado, se as questões estão claras. Para o teste são convidadas algumas pessoas para responder às questões. Elas podem ser especialistas no tema e/ou representarem uma pequena amostra do universo em que será aplicado o questionário. Depois de responderem, elas avaliam a qualidade do questionário.
Em algumas situações o nosso universo de pesquisa é muito grande, o que inviabiliza a aplicação a todos, neste caso temos que definir uma amostra. O tamanho e as características da amostra devem respeitar princípios da estatística. Não há uma porcentagem exata para definir o tamanho da amostra, tudo dependerá do tamanho do universo da pesquisa e dos recursos que temos para realizar o estudo. Para esta definição é aconselhável consultar um estatístico.
Concluímos resgatando o texto de Maria Cristina Fernandes que aponta o questionário como um bom instrumento para conhecermos a realidade, ouvirmos as pessoas, e compreendermos os significados atribuídos pelos sujeitos à educação.

Referência

Resenha elaborada José Carlos Rothen do Capítulo de Maria Cristina Galan Silveira Fernandes intitulado “Autoavaliação de curso: reflexões sobre a elaboração de questionários e a percepção de estudantes” do Livro “Conversas sobre avaliação: referências para uma primeira conversa”

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LEITE, Denise et al. Estudantes e avaliação da universidade: um estudo conjunto Brasil – Portugal. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p. 661-686, set./dez. 2007.

VIDOR, Gabriel; FOGLIATTO, Flávio Sanson; CATEN, Carla T. Construção de instrumento para avaliação de cursos de pós-graduação, Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 18, n. 1, p. 181-199, mar. 2013..

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