Autora: Ana Paula Silveira
Tese de doutorado defendida em 07/12/2022
Em meados da década de 1960, iniciavam-se as discussões sobre a reinvenção da administração pública. A reinvenção administrativa trouxe à discussão os novos modelos administrativos, a Nova Gestão Pública e o Gerencialismo. Esses modelos foram postos em prática via reformas estatais, que ocorreram de modo concomitante com as reformas educacionais, sendo o Estado brasileiro signatário das reestruturações voltadas à educação superior. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), criada pelo Decreto nº 3.835, de 1960, desde sua criação, apresentou diferentes modelos administrativos, ora com viés autoritário, ora com vieses democráticos e gerenciais. Na tentativa de identificar os modelos administrativos que influenciaram ou se interconectaram para a estruturação administrativa e para a elaboração das políticas institucionais da UFSCar, durante quarenta anos, as questões norteadoras da pesquisa são: Quais foram as políticas institucionais do período de 1960 a 2010 que se alinharam ou se interconectaram com o enfoque gerencial e quais foram os desdobramentos dessas políticas no que se refere ao desenvolvimento da UFSCar? Em qual momento é possível afirmar que tiveram início as políticas institucionais gerenciais na UFSCar? Houve políticas institucionais na UFSCar que puderam ser classificadas como gerenciais? Essas políticas institucionais auxiliaram no descobrimento da identidade da UFSCar? A fim de responder a tais questionamentos, tem-se como objetivo geral da pesquisa: discutir a interface entre uma gestão democrática e as especificidades ou ferramentas da perspectiva do Gerencialismo, na elaboração das políticas institucionais da UFSCar. Para realização desta pesquisa, foi adotado o método hipotético-dedutivo, bem como os seguintes recursos: revisão bibliográfica e análise documental integrativa, entrevistas semiestruturadas com “questões sondas” com os ex-gestores da UFSCar, para produção do metatexto. O presente metatexto contém seis seções: a primeira apresenta a trajetória de pesquisa; a segunda explicita os aspectos políticos e econômicos que circundaram a criação da UFSCar; a terceira aborda as especificidades da década de 1980 e a necessidade de institucionalizar a democracia na UFSCar e conhecer a identidade da universidade; a quarta versa sobre as especificidades da década de 1990, evidenciando a adoção do Planejamento Estratégico Situacional, como ferramenta administrativa; a quinta seção discute as políticas institucionais elaboradas e colocadas em prática, no período de 2000 a 2010, para que ocorresse a democratização do acesso à educação superior, período em que foi identificado o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFSCar, com estratégias longitudinais para a gestão universitária; finalmente, a sexta e última seção apresenta as conclusões deste estudo. Pode-se concluir que os agentes institucionais da UFSCar, preocupados com a consolidação da identidade da instituição enquanto universidade reconhecida internacionalmente, com prestígio acadêmico e social e com a utilização da gestão democrática como modelo administrativo orientador, constituíram o ethos ufscariano, dando ênfase às especificidades do enfoque democrático-gerencial, o que possibilitou interconectar as referências teóricas da gestão democrática com práticas e usos do gerencialismo para a elaboração das políticas institucionais, ao passo que negaram o enfoque autoritário centralizador dos fundadores da universidade.