Produção de conhecimento sobre avaliação educacional publicada no Brasil durante a década de 1980

Regilson Maciel Borges e José Carlos Rothen

 

O artigo apresenta mapeamento da produção de conhecimento sobre avaliação educacional publicada no Brasil durante a década de 1980. O referencial teórico e metodológico se baseou na literatura que discute os procedimentos para a coleta de dados em estudos bibliométricos. Os resultados fornecem a ideia do estado da arte da evolução desse campo de conhecimento, bem como permitem algumas constatações a respeito da construção do campo da avaliação no Brasil, evidenciando, por exemplo, o local em que se encontra esse campo e quais os principais autores que o formam.
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Considerações finais

O artigo apresentou o mapeamento da produção científica sobre avaliação educacional publicada ao longo da década de 1980 no Brasil, com a intenção de apontar algumas indicações sobre a construção de um campo científico brasileiro da avaliação.

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O campo é compreendido como algo dinâmico e histórico, que é construído e reconstruído “[…] à medida que sociedade se torna mais complexa e crescem as comunidades de intelectuais […]” (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 16). Além disso, “[…] o campo é disputado por grupos que são partidários de um determinado enfoque […]. Cada enfoque tem importantes seguidores, apresenta explicitamente alguns fundamentos racionais, aparece nas bibliografias, é posto em prática […].” (DIAS SOBRINHO, 2002, p. 17). Disso entende-se o campo enquanto espaço de relações, cujos agentes possuem interesses específicos comuns que estimulam as pessoas e tornam possível o funcionamento do campo num determinado momento histórico (BOURDIEU, 2004).

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Nesta pesquisa, a análise desse campo foi realizada a partir dos indicadores da produção de conhecimento sobre avaliação educacional publicada ao longo da década de 1980, por considerarmos que foi nesse período que começou uma reflexão teórica mais aprofundada em torno da avaliação educacional no país, quando também tiveram início as primeiras experiências sistemáticas e propostas de avaliação das instituições de educação brasileira (ROTHEN; BARREYRO, 2011a). Os indicadores bibliométricos dessa produção possibilitaram a identificação do tipo de produção, revista/editora/IES, ano, volume e número, seção na revista, autor, vínculo institucional, orientador, título do trabalho e palavras-chave. O cruzamento desse material, dentre outros resultados, evidenciou o local em que se encontra esse campo e quais os principais autores que o formaram.

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Se considerarmos, por exemplo, o vínculo institucional dos autores que tiveram mais de duas publicações no período analisado, temos grupos formados em seis instituições e/ou centros de pesquisa, é o caso dos seis autores vinculados a FCC, dos cinco a PUC-SP, dos quatro a PUC-RJ, dos dois IPEA, dos dois a UFRJ e dos outros dois a UFRGS. Excetuando-se o IPEA, as demais instituições aparecem com frequência nos estudos que analisam o conhecimento produzido sobre o tema da avaliação no país, é o que salienta Sousa (1996) ao constatar que a concentração de estudos sobre avaliação da aprendizagem no período de 1980 a 1990 em quatro Universidades: a PUC-SP, a PUC-RJ, a UFRJ e a UFES. Já os trabalhos de Candau e Oswald (1995), Sousa (2005) e Poltronieri e Calderón (2012) mencionam a importância da FCC no que se refere à produção e divulgação do conhecimento científico na área da avaliação.

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A partir da afinidade nas suas produções, ou seja, os focos comuns de interesses em determinadas temáticas abordadas e de acordo com seus alvos em jogo e interesses específicos (BOURDIEU, 2004), e segundo as relações igualmente comuns entre os agentes que dão sustentação para o funcionamento do campo, foi também possível classificar os 19 autores identificados nesta pesquisa como os principais autores da avaliação educacional na década de 1980, em dois grupos teóricos. O primeiro grupo, que inclui autores como Heraldo Vianna, Adolpho Ribeiro Netto, Sérgio Costa Ribeiro, Simon Schwartzman, Claudio de Moura Castro e Ruben Klein, discute a avaliação na perspectiva de resultados e apresentam basicamente estudos de cunho quantitativo sobre o rendimento escolar dos alunos que são mensurados por meio de testes de conhecimentos, tal como os aplicados nos exames vestibulares. A avaliação nessa abordagem se confunde com a mensuração do rendimento escolar aferida por meio de testes que possibilitariam medir com rigor a aprendizagem dos alunos, proporcionando-lhes o acesso ao ensino superior, quando do emprego dos exames vestibulares. Por outro lado, as medidas também se traduzem nos indicadores da produção científica da pós-graduação que indicariam o desempenho, isto é, a qualidade, dos cursos de mestrados e doutorados no país.

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O outro grupo, que inclui autores como Ana Maria Saul, Bernardete Gatti, Cipriano Luckesi, Clarilza Prado de Sousa, Elba Barretto, Jussara Hoffman, Léa Depresbiteris, Maria Amélia Goldberg, Maria Laura Franco, Marli André, Menga Lüdke, Pedro Demo e Thereza Penna Firme, discute a avaliação na perspectiva de processo, com a presença de estudos de cunho qualitativo que analisam a literatura da avaliação e propõem metodologias para a avaliação educacional. Nessa abordagem se defende a participação dos envolvidos e interessados nos processos avaliativos. A avaliação aparece, por um lado, como possibilidade de se conhecer como foi construída a teoria em avaliação educacional a partir da literatura estadunidense, assim como estão presentes as primeiras tentativas para se pensar uma teoria e prática de avaliação de cunho mais participativo; e por outro lado, evidenciam-se os esforços de estudiosos em esboçar uma prática de avaliação que pudesse ser aplicada à realidade educacional brasileira.

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Essas duas correntes de avaliação também mostram que o campo da avaliação educacional brasileiro na década de 1980 foi habitado por autores de duas diferentes matizes epistemológicas: uma que enfatizava a avaliação em sua vertente de testes e indicadores quantitativos e outra que, contrapondo-se a esse viés quantitativista, ancorados numa abordagem de avaliação qualitativa e participativa, passaram a desenvolver referenciais teóricos alternativos ao modelo de avaliação quantitativo dominante no período. Ainda que antagônicas, essas suas perspectivas apresentam aproximações que indicam a existência de complementaridades em torno da importância da avaliação, da necessidade de qualificação dos avaliadores, da diversificação dos métodos avaliativos e do uso dos resultados para fins de melhoria do que foi avaliado.

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Nessa aproximação fica claro que avaliar é uma atividade complexa e multidisciplinar, e que por isso mesmo não pode ser reduzida a uma função mecânica. Trata-se de um ato de poder, e enquanto tal pode ser exercido para a dominação ou para a promoção do bem comum. Exige-se uma formação qualificada para os que realizam as atividades avaliativas, sejam eles professores, agências governamentais, fundações especializadas na aplicação de exames vestibulares, etc. E de que não há um único método a ser aplicado enquanto procedimento de avaliação, este depende do objeto que será avaliado e do que se espera no estudo. Os resultados de uma avaliação deveriam possibilitar a tomada de decisão para fins de melhoramento e redefinição das ações no seu sentido construtivo. O ideal é que os resultados fossem amplamente divulgados junto aos interessados pelo processo: escolas, alunos, pais, sociedade em geral e governos.

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