Egberto Pereira dos Reis e José Carlos Rothen
O presente artigo tem como objetivo descrever como os intelectuais da libertação atuaram entre os anos de 1972 a 1986, descritos na Revista Eclesiástica Brasileira. Na Revista foi detectada a forma como estes intelectuais atuaram frente ao aparelho do Estado, especialmente no regime militar e com relação à Igreja “oficial”. Foi feita a chamada análise Bibliométrica com a finalidade de mensurar a revista, para levantar dados referentes à atuação de alguns autores no período mencionado. Foram levantados os seguintes itens: ano, mês, artigos/comunicação, título do artigo, formação acadêmica, vínculo institucional, titulação e categorização.
Considerações Finais
Estudando a Editora Vozes, conhecemos melhor a REB. Porém, para aprofundar este periódico, utilizamos o método bibliométrico. Mensuramos a Revista para selecionar informações de caráter quantitativo e, sobretudo, qualitativo, para explicitar o recorte escolhido. Procuramos interpretar os dados obtidos à luz de Gramsci, para entender a organização do grupo e como ele se articulou nas guerras de posição. Emergiram, neste estudo, o número de artigos publicados, os autores que publicaram entre 1972 a 1986, e, para confrontar essas informações, também verificamos os autores que publicaram entre 1965 a 1971. Esses dados nos ajudaram a entender quem publicou e deixou de publicar, a fim de visualizarmos o perfil dos intelectuais.
Foi visto, ainda, os que mais publicaram na Revista e os anos em que mais publicaram, dando ideia da formação do grupo de intelectuais. A titulação deles demonstra o nível elevado da Revista, pois a maioria possuía título de doutor. As ciências humanas é que mais prevalecem, em especial nas áreas de teologia e de filosofia. Os referidos autores estavam vinculados a universidades; portanto, atuantes no mundo acadêmico, sem, contudo, perder a vinculação com a práxis nas Comunidades Eclesiais de Base. E, nos temas mais abordados, foi possível visualizar a preocupação político-social.
Ao tratarmos dos editoriais, obtivemos um panorama geral dos nú- meros da REB, no período estudado, e, principalmente, vislumbramos o posicionamento político e ideológico do grupo da REB. De fato, os editoriais têm a função de demonstrar o ponto de vista defendido, os argumentos apresentados e como se seguem os textos apresentados. Para o enriquecimento da pesquisa, utilizamos os artigos que se tornaram, juntamente com os editoriais, a chave de compreensão do grupo na busca pela libertação e na elaboração do princípio educativo. Consequentemente, observamos que, no ano de 1972, houve uma ruptura, ou seja, a passagem para uma nova orientação ideológica, firmando o ideário da Teologia da Libertação. E, para a formação, manutenção e continuidade do ideário, foi necessária a presença da diversidade cultural, isto é, foram necessárias as diferenças científicas em diálogo com a Teologia da Libertação.
Desta forma, o grupo de intelectuais alinhados às ciências sociais, na experiência pastoral/política, explicita a incompatibilidade do cristianismo com o capitalismo. Neste sentido, o grupo da REB, em conjunto com as Comunidades Eclesiais de Base, rejeita a mentalidade de que a pobreza é natural ao ser humano e que o atraso econômico é consequência cultural latino-americana, geradora e justificadora da teoria da dependência. Esta é, sem dúvida, uma nova concepção de mundo, uma forma de elaborar uma reforma cultural e moral. Visualiza-se, pois, nas páginas da Revista um posicionamento contrário à ordem vigente. Para um posicionamento tão sólido foi necessário o diálogo com as ciências, diálogo estabelecido por estes mesmos intelectuais ao longo do período pesquisado.
Veja também
Os intelectuais da libertação e a intercâmbio educativo – o livro
O regime militar, os direitos humanos e a igreja (1972 – 1986)