“Em Os intelectuais da libertação…, o educador Egberto Pereira dos Reis tem a coragem de assumir uma posição como intelectual orgânico a serviço da transformação social, na perspectiva do que foi e ainda é a Teologia da libertação, muito bem proclamada e defendida pela Revista Eclesiástica Brasileira (REB), dos anos 1972 a 1986, sob a direção do teólogo Leonardo Boff. Em tempos de pós-verdade, de crise política, de fundamentalismos e de intolerância religiosa, o autor afirma o Deus que liberta, que indica um caminho de salvação, caminho que passa pelo cuidado dos pequeninos, dos excluídos, dos “últimos” da sociedade, na expressão do Papa Francisco. Este livro, juntamente com a ação de muitos intelectuais engajados, contribui para as conquistas de vitórias, mesmo que parciais, “de esperança em esperança”, daquilo que Gramsci denomina “guerra de posição”. Os intelectuais da libertação é uma excelente leitura para todos aqueles que quiserem participar do debate atual, com fundamentação teológica, filosófica e sociológica. Os intelectuais da libertação é fruto da experiência de uma vida do autor, e de sua pesquisa de doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar. Eu tive a honra de participar de sua banca de defesa e tenho orgulho de apresentar este livro.”
João Virgílio Tagliavini
“O livro tem dupla contribuição: a primeira, o resgate e desenvolvimento de uma metodologia que visa estudar a ação de grupos a partir da análise de suas publicações, a epistemologia política. A segunda contribuição, ao estudar a Revista Eclesiástica Brasileira permite conhecer as ideias e ações dos defensores da Teologia da Libertação, principalmente os franciscanos.
A epistemologia política é uma proposta metodológica que parte da ideia de Foucault que não existe o poder em si, mas sim o seu exercício. Desta maneira ao estudar o poder estamos investigando práticas sociais especificas. O poder não é apenas negação, mas também afirmação. Ao mesmo tempo que impede, cria realidades. Uma das formas de manifestação do poder é por meio de enunciados expressos nos discursos. Assim a epistemologia política direciona-se para o estudo dos regimes de verdade que permitem que determinadas falas sejam feitas e outras não.
Tendo objetivo de estudar o poder na formulação de políticas públicas, a epistemologia política faz uso da compreensão de Gramsci de como se estrutura o partido político. Para o autor o partido orgânico tem três elementos: o de “coesão principal”, o “médio” e o “difuso”. O elemento de coesão principal é que desenvolve as ideias que permitiram o partido buscar a hegemonia. Em uma visão ampliada de partido o elemento de coesão principal pode estar fora do partido.
Para estudar a teologia da libertação e como um grupo organizado dentro da Igreja Católica usando a categoria de partido, Egberto Pereira dos Reis resgata o conceito gramsciano de guerra de posições, ampliando assim a epistemologia política.
O conceito de guerra de posições permite compreender os embates na construção do ideário que será hegemônico na Igreja católica. Ápice deste embate revela-se quando o Cardeal Joseph Aloisius Ratzinge, que se tornará nos anos 2000 o Papa Bento XVI, ao visualizar a perda da hegemônica conservadora impõe o “silêncio obsequioso“ a Leonardo Boff, um dos líderes e construtor do ideário da Teologia da Libertação e editor da Revista.
Navegar pelas páginas deste livro é navegar pelas páginas da história da teologia da libertação, é ser conduzido pelo ideário construído e pelos seus embates.”
Boa leitura, um bom passeio.
José Carlos Rothen.
12/10/2018. Dia de Nossa Senhora Aparecida.