A divulgação da avaliação da educação na imprensa escrita: 1995-2010

Imprensa e avaliação

A imprensa, a partir de meados da década de 1990, tornou-se um dos atores importantes para a consolidação das políticas de avaliação da educação na realidade brasileira. Usando como fonte documental o jornal Folha de S. Paulo, as revistas Veja e Época, no período compreendido entre 1995 e 2010, no artigo reconstrói-se a maneira como estes meios de comunicação impresso divulgam e fazem uso dos resultados das avaliações. Conclui-se que as mídias analisadas têm contribuído para a legitimação da avaliação da educação e é presente nas matérias a ideia de que a avaliação é uma prova que permite controlar a qualidade da educação.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada na imprensa escrita no período 1995 a 2010, mostra que a educação não é uma temática muito destacada nas revistas, mas é frequente no jornal. Acerca da educação, os assuntos considerados são, principalmente, relativos à qualidade do ensino, com destaque para a baixa qualidade do ensino básico público e do ensino superior privado. Outras temáticas desenvolvidas são a reserva de vagas em instituições públicas de ensino superior, a (má) formação dos professores, a informática e materiais didáticos padronizados como possíveis ferramentas de melhoria do ensino, a necessidade de políticas meritocráticas de recompensa aos professores. Dentro da temática da qualidade do ensino é que aparece a avaliação.

As mídias analisadas destacam a importância das provas como um elemento de aferição da qualidade da educação, visando sua melhoria. Essa é a sua mensagem principal, ela é reforçada e legitimada. Parece que isso basta, pois os resultados das avaliações não parecem ser tão importantes como o fato em si de se fazer avaliações. Mas há diferenças quanto ao tratamento dado pelas mídias aos resultados obtidos nas provas. A Folha de S. Paulo enfatiza menos a avaliação dentre as outras notícias educacionais, mas, quanto o faz, divulga e analisa os resultados obtidos pelas instituições/cursos. Nas revistas, os resultados das avaliações aparecem apenas como ilustração, principalmente de ideias acerca da baixa qualidade da educação no país.

A concepção de avaliação que se infere nas matérias analisadas e a de avaliação como controle do trabalho desenvolvido pelas instituições e os professores, contribuindo assim a divulgar a visão gerencialista da educação, hegemônica na década de 1990, com o desenvolvimento do Estado Avaliador. Não são consideradas outras formas de avaliação como a institucional. As provas são indicadores de qualidade, sem questionar o que é avaliado, nem o contexto da instituição ou curso. Refletem a concepção de avaliação segundo a qual, os resultados das avaliações dos alunos são aplicáveis à avaliação dos cursos e instituições. As provas, nas matérias analisadas, são consideradas positivas por permitir a elaboração de ranques e estimular a concorrência institucional, o que é considerado bom para a melhoria da qualidade do ensino.
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Nas revistas Veja e Época, enfatiza-se a ideia de que a prova é boa, seja ela o Exame Nacional de Cursos-Provão, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica- SAEB ou o Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM, esse, inclusive como vestibular. Chama a atenção, perante esse destaque à positividade da prova, que não exista nenhuma matéria no universo pesquisado, que faça referência aos conteúdose às temáticas avaliadas. Quanto à validade das provas para aferir qualidade e os questionamentos às provas em larga escala, (como são o SAEB, o ENEM, o PROVÃO e o ENADE) algumas delas aparecem, mas apenas na revista Veja, cujo colunista principal acerca de educação, Claudio de Moura Castro, assinala o risco de induzir currículum e de gerar cursinhos de preparação para a prova.

Um destaque merece o Exame Nacional de Cursos. Verifica-se, no estudo, o sucesso do apelido “Provão”, criado pelos estudantes que o boicotavam e que foi adotado pelo MEC para o ENC, em vez de combatido. Com efeito, para a mídia, ele é sinônimo de “avaliação”, qualquer avaliação: não apenas do ensino superior, não apenas avaliação dos sistemas educacionais. Todo um sucesso de marketing.

Quanto aos períodos analisados, correspondentes aos governos FHC e Lula, percebem-se diferenças quanto a algumas temáticas educacionais priorizadas, devidas às ênfases especificas dos respectivos governos.

A avaliação, se considerada como “prova” é uma temática presente nos governos dos dois ex-presidentes. Nos governos FHC, a avaliação é um assunto muito presente, em consonância com a emergência do Estado Avaliador, e com a introdução de uma nova sistemática: o Provão. O ENADE não terá tanto sucesso quanto o Provão, em parte devido ao fato de ele ser um eixo dentro de um sistema de avaliação (o SINAES), mas também porque, a partir de 2003, atemática da ampliação do acesso ao ensino superior com a inclusão de cotas no ensino superior público ganha maior destaque nas notícias. A avaliação como prova, revigora com a transformação do ENEM em vestibular, em 2010 e é temática muito destacada relativa à educação básica, com a implantação do IDEB.

Pode se concluir, a partir dos dados da pesquisa que as revistas Veja e Época e o jornal Folha de S. Paulo tem contribuído para a legitimação de a avaliação realizada na forma privilegiada de provas aplicadas aos alunos. Assim, nas matérias analisadas, ressalta-se a ideia de que avaliação é uma prova que permite controlar a qualidade da educação.

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ROTHEN, José Carlos, BARREYRO, Gladys Beatriz; PRADO, Aryane de Paula; BORTOLIN, Leticia; CAVACHIA, Raiani Cristina. A divulgação da avaliação da educação na imprensa escrita: 1995-2010. Avaliação (Campinas), v. 20, p. 643-664, 2015. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1414-40772015000300005