Letícia Bortolin e José Carlos Rothen
O trabalho tem como objetivo explicitar a concepção de qualidade construída (e utilizada) pelas instituições de ensino superior privadas. Toma como objeto de investigação a Revista Ensino Superior, do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), no período de 2000 a 2010, e evidencia, por meio de análise, qualitativa, das matérias publicadas, e as concepções de qualidade e os modelos que a revista utiliza na construção de seus discursos. Conclui-se que, para a revista em questão, qualidade é obter uma boa nota nas avaliações e ter bom posicionamento em rankings; o caminho para tal seria ter bons professores, gestão, metodologia de ensino, seleção dos alunos e cursos atualizados com o mercado. Para a revista, a falta de qualidade das instituições privadas se explica pela limitação cultural dos seus estudantes.
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Considerações finais
A revista expressa um foco voltado para o setor privado e a expansão do mesmo, o que passa pela importância dada ao marketing como modo de propagar os cursos ou as IES que conseguiram notas/conceitos altos nas avaliações. Os resultados da avaliação que indicariam a qualidade das IES são valorizados enquanto material de publicidade e não como um retorno da avaliação externa para a melhoria na oferta de seus cursos. Tais estratégias são construídas em busca de atrair novos alunos, isto é, a ‘clientela’, tal como denominada pela revista.
Podemos compreender que, no período investigado, a concepção de qualidade está diretamente ligada aos instrumentos de avaliação e à colocação em rankings; que para se alcançar tal qualidade é preciso passar pelos processos avaliativos e, então, aprimorar os aspectos que apresentaram resultados insatisfatórios. A qualidade, então, é definida pela nota e classificação obtidas. A partir da classificação tem-se, então, uma base para definir qual instituição possui ou não qualidade, sendo que, para a revista, é preciso atuar sobre os pontos a serem melhorados, bem como acompanhar o mercado de trabalho para atualizar os cursos em atendimento a suas demandas.
Tais resultados indicam uma concepção de educação mercadológica – isto é, um modelo de educação mais voltado ao comércio e à lucratividade – e um sentido para os processos avaliativos de ferramenta importante para divulgação das notas dos cursos e das próprias instituições, possibilitando qualificação nos rankings. Resulta que cursos que acompanham a evolução do mercado atrairão os melhores alunos, o que, por sua vez, contribui para a própria qualidade dos cursos. Oliveira (2009, p. 753) afirma que,
Entretanto, não estamos frente a uma situação em que seja possível frear o avanço do mercado educacional por formulações compartilhadas por parte da sociedade. O fato é que, mesmo se afirmando, inclusive no texto constitucional brasileiro, que educação é um direito social e um dever do Estado, o mercado avança vorazmente.
Neste trabalho foi possível identificar o quanto a revista considera importante que cursos e instituições do setor privado sigam as direções e demandas oferecidas pelo mercado. Busca estratégias para alcançar padrões avaliativos, preocupando-se com a formação docente e com as metodologias de ensino, mas não há tanta preocupação com a infraestrutura física. Outra preocupação presente na revista é a empregabilidade dos alunos e a expansão dos cursos mediante as necessidades do mercado. A ‘não qualidade’ da educação privada é atribuída pela revista ao seu ‘cliente’: o aluno; o déficit de aprendizagem dos estudantes, oriundos de escolas mais fracas, contribui para as baixas avaliações de cursos e IES, segundo o mesmo periódico.
O que podemos concluir é o fato de muitas IES visarem o ensino como algo comprável, equiparado a um comércio no qual o que mais importa é ter bons alunos para aumentar os índices avaliativos das IES e, assim, a concorrência, fazendo crescer, então, a lucratividade, ou seja, transformando a instituição em uma empresa que gere lucros. Para alcançar o sucesso da instituição e seu progresso, se faz necessário que a mesma tenha qualidade. Qualidade esta que, de acordo com os dados coletados, é alcançada quando há investimentos em: metodologias de ensino com auxílio de tecnologias de comunicação e informação; professores qualificados; uma gestão que saiba gerenciar com perfil empreendedor; alunos preparados para o ingresso no ensino superior e cursos atualizados com mercado.