Ler um texto significa dialogar com o autor. A leitura , o diálogo, supõe dois momentos: o ouvir e o falar. Por não contarmos com a presença do autor, muitas vezes deixamos este diálogo se tornar um monólogo, no qual o texto se torna o dono da verdade, a qual o leitor deve se submeter passivamente. O próprio ato de ouvir exige a ação do ouvinte: a ação de prestar atenção e de raciocinar sobre o que está sendo ouvido. Somente assim se entenderá o que está sendo dito. Caso contrário o leitor/ouvinte torna-se uma porta, que lê/ouve e não reage, que não transmite o que entendeu. Ou ainda o leitor/ouvinte pode se tornar um papagaio que apenas repete o som ouvido sem saber o significado desse som.
Leitura: Ouvindo o autor
Primeiro passo: Ler o texto inteiro sem interrupções.
A primeira leitura tem a finalidade de quebrar o gelo em relação ao texto. No contato com o novo, temos a tendência de nos retrair, provavelmente por causa de nossos medos, receios etc. Da mesma maneira quando conhecemos uma pessoa procuramos de início ter um contato superficial para somente depois aprofundar (ou não) o relacionamento; neste primeiro contato com o texto não se tem a preocupação de entender tudo o que se está falando.
Quando a leitura for extensa, no caso de livros inteiros, deve-se dividir o texto em unidades de leitura. Assim, todas as fases de leitura serão feitas por unidade.
É interessante nesta primeira leitura numerar os parágrafos, pois no caso de um debate sobre a leitura, fica mais fácil a localização de partes que forem citadas.
Ao final da primeira leitura é feita a identificação da introdução, desenvolvimento e conclusão. Se o texto foi tecnicamente bem elaborado, na introdução se encontra o tema do texto, a questão discutida e o que será desenvolvido. No desenvolvimento, são colocados todos os argumentos usados. Na conclusão se tem uma síntese do que foi falado e a opinião final do autor sobre o tema.
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Segundo passo: o grifo.
Agora se tem a leitura mais detalhada do texto. A cada parágrafo deve se inicialmente grifar a palavra chave. A palavra chave é uma palavra ou uma pequena expressão que informa o assunto principal do parágrafo, a partir dela são geradas todas as informações do parágrafo, assim pode se dizer que ela é o grande sujeito do parágrafo.Em alguns casos a palavra chave pode ser a mesma para vários parágrafos.
Quando houver dúvida para escolher entre duas ou mais palavras chaves, deve se usar os seguintes critérios: primeiro a palavra que tem maior ligação com o tema principal, segundo, aquela que tiver o maior número de informações.
Num segundo momento da leitura do parágrafo se grifa a principal informação sobre a palavra chave.
Como todo texto deve ter uma seqüência de raciocínio, um indicativo se o grifo de um parágrafo está correto ou não consiste em verificar se a parte grifada faz parte do raciocínio do autor. Mas somente o treino é que garantirá que o grifo feito é o melhor possível.
Num texto bem redigido os argumentos usados pelo autor são explicados. Sendo comum ocorrer dentro de um parágrafo a repetição da idéia em outras palavras, então duas pessoas podem grifar partes diferentes do texto e os dois grifos fazerem referência à mesma idéia.
Sempre é bom lembrar que só podemos grifar os livros que nos pertencem, livros emprestados de amigos ou da biblioteca devem ser devolvidos no mesmo estado em que foram retirados.
Exemplo
Para exemplificar esta técnica de leitura, abaixo será apresentado dois parágrafos de um texto de Paulo Freire, e estes parágrafos serão repetidos com o grifo da palavra chave e depois como o grifo da principal informação.
“O problema que se põe àqueles que, mesmo em diferentes níveis, se comprometem com o processo de libertação, enquanto educadores, dentro do sistema escolar ou fora dele, de qualquer maneira dentro da sociedade (estrategicamente fora do sistema; taticamente dentro dele), é saber o que fazer, como, quando, com que, para que, contra que e em favor de quê.”
“O aprendizado da leitura e da escrita, como um ato criador, envolve, aqui necessariamente, a compreensão crítica da realidade. O conhecimento do conhecimento anterior a que os alfabetizandos chegam ao analisar a sua prática concreta abre-lhes a possibilidade de um novo conhecimento. Conhecimento novo, que indo mais além dos limites do anterior, desvela a razão de ser dos fatos, desmistificando assim as falsas interpretações dos mesmos. Agora, nenhuma separação entre pensamento-linguagem e realidade, daí que a leitura de um texto demande a `leitura’ do contexto social a que se refere.”
[Paulo Freire, A educação é um que fazer neutro? In GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas pp. 254-255]
Grifo da palavra chave
“O problema que se põe àqueles que, mesmo em diferentes níveis, se comprometem com o processo de libertação, enquanto educadores, dentro do sistema escolar ou fora dele, de qualquer maneira dentro da sociedade (estrategicamente fora do sistema; taticamente dentro dele), é saber o que fazer, como quando, com que, para que, contra que e em favor de quê.”
“O aprendizado da leitura e da escrita, como um ato criador, envolve, aqui necessariamente, a compreensão crítica da realidade. O conhecimento do conhecimento anterior a que os alfabetizandos chegam ao analisar a sua prática concreta abre-lhes a possibilidade de um novo conhecimento. Conhecimento novo, que indo mais além dos limites do anterior, desvela a razão de ser dos fatos, desmistificando assim as falsas interpretações dos mesmos. Agora, nenhuma separação entre pensamento-linguagem e realidade, daí que a leitura de um texto demande a `leitura’ do contexto social a que se refere.”
Grifo da principal informação
“O problema que se põe àqueles que, mesmo em diferentes níveis, se comprometem com o processo de libertação, enquanto educadores, dentro do sistema escolar ou fora dele, de qualquer maneira dentro da sociedade (estrategicamente fora do sistema; taticamente dentro dele), é saber o que fazer, como, quando, com que, para que, contra que e em favor de quê.”
“O aprendizado da leitura e da escrita, como um ato criador, envolve, aqui necessariamente, a compreensão crítica da realidade. O conhecimento do conhecimento anterior a que os alfabetizandos chegam ao analisar a sua prática concreta abre-lhes a possibilidade de um novo conhecimento. Conhecimento novo, que indo mais além dos limites do anterior, desvela a razão de ser dos fatos, desmistificando assim as falsas interpretações dos mesmos. Agora, nenhuma separação entre pesnamento-linguagem e realidade, daí que a leitura de um texto demande a `leitura’ do contexto social a que se refere.”
Quarto passo: O Inventário
Quando uma pessoa escreve um texto ela está preocupada em responder alguma questão que se faz presente no seu estar no mundo. Uma boa resposta sempre é seguida de argumentos em seu favor.
Uma boa interpretação de um texto pressupõe que o leitor identificou a questão que o autor se coloca, a idéia principal (ou tese) do texto e os seus principais argumentos.
A palavra inventário que provém do direito, segundo o dicionário Aurélio, significa:. “relação dos bens deixados por alguém que morreu.” O inventário de um texto é a relação das suas idéias.
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O inventário tem dupla função: primeiro para facilitar o entendimento do texto, o segundo para que quando precisarmos retomar o texto possamos com o leitura do inventário rapidamente relembrarmos as principais idéias do texto.
Após o grifo do texto deve se tem os seguintes passos para a elaboração de um inventário.
Argumentos
Cada parágrafo de um texto tem uma idéia principal, ou um argumento. A partir da leitura das partes grifadas cabe ao leitor resumir em uma ou duas linhas a idéia desse parágrafo. Nesse momento, o resumo de cada argumento pode ser feito com as palavras do autor ou com as do leitor.
Para facilitar futuras consultas é interessante anotar a página e/ou parágrafo em que se encontram os argumentos.
Tese
A tese é a idéia central do texto, a resposta que o autor dá à questão que ele se faz. Para identificar a tese o leitor deve reler os argumentos e se perguntar: “qual idéia estes argumentos defendem?”. A resposta dessa pergunta deve ser anotada. O seu tamanho deve ficar entre 2 e 4 linhas.
Questão
A questão é a pergunta que o autor se coloca antes de iniciar a redação do seu texto. Para identifica-la deve se ler a tese e perguntar: “Esta tese responde a qual pergunta?” A questão (pergunta) deve ser anotada.
Referência bibliográfica
Durante a vida de estudos são feitos muitos inventários e para guardá-los de forma ordenada é necessário colocar inicialmente na folha a referência bibliográfica. Assim os inventários são arquivados por autor.
Dica
Quando se fizer um inventário de um livro ou de um texto muito longo é possível se agrupar alguns parágrafos em um único argumento.
Exemplo
FREIRE, Paulo, A educação é um que fazer neutro? in GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. S. Paulo: Ática, 1995. pp. 254-255.
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Questão
É possível uma educação neutra? |
Tese
O ato educativo sempre é um ato político, é uma tomada de posição diante do contexto social. Quando se pretende uma educação neutra se está tomando um partido, o da classe dominante. |
Argumentos
· “O problema (…) é saber o que fazer, como, quando, com quem, para que, contra que e em favor de quê.” (parágrafo 1) · Há relação entre método de alfabetização e opção política (par. 2) · Se revolucionária (…) o fundamental é (…) fazer história e por ela ser feito (par. 3) · No sistema capitalista “o pensamento-linguagem é desconectado da objetividade (…) o conhecimento deve ser comido”(par. 4) · “a eles se lhes propões é a recepção passiva de um conhecimento empacotado”(par. 5) · Na alfabetização revolucionária “os educados são convidados a pensar” (par. 5) · “nenhuma separação entre pensamento-linguagem e realidade (…) a leitura de um texto” leva à leitura do seu contexto (par. 6) · “Os defensores da neutralidade da alfabetização (…) negam o mesmo caráter :político à ocultação que fazem da realidade (par. 8) |
Dialogando com o autor
Dialogar com o texto significa ler o texto intencionalmente, isto é, formular perguntas, críticas etc. e reler o texto com a preocupação de identificar as possíveis respostas do autor
Levantar questões
Basicamente, as questões que podemos formular a um autor são relativas a entendimento do texto e de aprofundamento. Toda vez que surge uma questão, esta deve ser anotada
Ideias sobre o tema
A leitura de um texto sempre nos permite pensar sobre o tema. Inúmeras idéias e críticas surgirão durante a leitura. Estas devem ser anotadas, ou no texto ou em uma folha à parte.