A avaliação externa das escolas e a formação continuada de professores: o caso paulista

Andréia da Cunha Malheiros Santana e José Carlos Rothen
Este artigo tem como objetivo discutir o impacto do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) e do Índice de Desenvolvimento da Educação no Estado de São Paulo (IDESP) na formação continuada de professores. Este artigo é fruto de uma pesquisa de pós-doutorado que investigou como os resultados da avaliação externa são trabalhados em duas escolas com desempenhos antagônicos no IDESP: uma com resultado crescente, e outra, decrescente. No estudo de caso, foram adotados como procedimentos metodológicos a análise documental, a observação das reuniões pedagógicas das escolas, um questionário destinado aos professores e diretores e entrevistas com os supervisores de ensino. Concluiu-se que o modelo de formação continuada realizado a partir dos resultados das provas visa ao treinamento dos professores. Esse tipo de formação é elaborado pela Secretaria de Educação, que reduz a formação continuada à preparação dos professores para treinarem os alunos a realizar as provas aplicadas pelo estado; a escola não tem autonomia para trabalhar os resultados das avaliações externas, nem o hábito de indagar suas razões e causas. Os resultados nas avaliações são analisados e vistos como metas a serem atingidas sem que seja promovido o diálogo entre as avaliações externas e internas.
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Considerações finais

Conclui-se que o modelo de formação continuada realizado nas escolas estaduais de São Paulo tem como tema central os resultados das avaliações externas (SARESP) e a necessidade de melhoria do IDESP. Trata-se de um treinamento dos professores, elaborado pela Secretaria de Educação, que reduz a formação continuada à preparação dos professores para treinarem os alunos a realizarem as provas aplicadas pelo estado.
Esse modelo de formação cria uma situação perversa, reforçando o individualismo, a desigualdade entre as escolas e a competitividade, e fazendo com que os professores passem a culpar uns aos outros pelo mau desempenho dos alunos nas avaliações externas, uma vez que também são avaliados por ela. A própria formação, sobretudo a continuada, passa a ser influenciada pelo processo de regulação do trabalho, de treinamento de algumas habilidades para que o desempenho nas avaliações externas melhore e, assim, os índices fquem mais altos.
Na investigação, observou-se que os resultados nas avaliações são analisados e vistos como metas a serem atingidas sem que seja promovido o diálogo entre as avaliações externas e as internas. Além disso, constatou-se que a escola não tem autonomia para trabalhar os resultados das avaliações externas como quiserem, tampouco o hábito de indagar suas razões e causas.
Contrapõe-se a essa prática a proposição de que a melhora do resultado dos alunos é a melhora da formação continuada dos professores, que devem ser vistos como sujeitos de suas ações. Por isso, é importante pensar na avaliação externa como uma fonte de diálogo com o trabalho dos professores, buscando novos métodos pedagógicos e revendo as escolhas curriculares.
Acreditamos que a formação continuada deve trabalhar com os resultados das avaliações externas, pois essa avaliação pode servir de mote para que se reflita sobre diferentes questões, como o conhecimento teórico do professor, as diferentes metodologias para trabalhar com os alunos, o papel das políticas públicas nas escolas, além da própria discussão sobre o que é uma escola de qualidade atualmente. No entanto, a maneira como essa formação é feita deve mudar; ela precisa perceber os professores como sujeitos e buscar sanar as difculdades que eles apresentam, e não ser reduzida a um treinamento.
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SANTANA Andréia da Cunha Malheiros; ROTHEN José Carlos A avaliação externa das escolas e a formação continuada de professores: o caso paulista. Revista Diálogo Educacional (PUCPR. Impresso), v. 15, p. 91-110, 2015.